sábado, 17 de março de 2012

Estranho

E eu estava ali, desfazendo aquela mala em uma noite de sexta-feira, quando encontrei uma caixinha de um presente que você havia me dado há quase três anos. Sim, eu guardara a caixinha do presente como quem guarda uma safira. Eu e minha mania de não conseguir desapegar, pensei.
E pensei em você. E em tudo o que não te disse. Mas, principalmente, em tudo o que um dia eu te disse, e que jamais deveria ter dito. Porque, embora eu não soubesse naquela época, eu te disse várias mentiras. Gostar do teu carro prata foi uma delas. Gostar da tua coleção de camisas de futebol foi outra.
Hoje, e só hoje, eu me dei conta. Me dei conta de que eu nunca te amei (e, pelo menos, essa foi uma mentira que eu nunca te contei). Porque, se eu tivesse te amado, eu não teria te deixado partir.
O estranho nisso tudo é eu não ter deixado de pensar. Pensar em ti, nas tuas manias e defeitos detestáveis, e na forma como tudo terminou. Estranho, quase três anos depois, eu aqui, escrevendo sobre você, apesar de nunca ter escrito para você. Querendo que você me desculpe por tudo, querendo ainda que você me peça perdão por tudo. Tudo o quê? Já nem lembro ao certo. Nem da mágoa - minha memória nunca foi boa para rancores. Talvez por isso eu nunca tenha entendido a tua raiva.
E agora você deve estar em uma sala de cinema, e sequer deve lembrar de mim. Tudo é tão estranho, né? Dividimos a cama, as contas e o xis de stroggonof, e agora? Nosso erro foi nunca ter dividido sonhos.
Não, eu não sinto a sua falta. É sério. Eu só sinto falta de momentos como aquele em que você bateu o carro porque não conseguia parar de me olhar.
Estranho.