segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Rumo ao lugar comum

E lá vou eu recolher meus sapatos, meus trapos, meus cacos.
E lá vou eu outra vez enfiar o sonho na mochila, acomodá-la nas costas e partir.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

E...

E quando meu rosto tocou o travesseiro naquela noite, era o teu cheiro que eu sentia. Então, eu quis escrever. Escrever dessas prosas loucas que nos invade o pensamento e manda o sono embora...

Em alguma rádio mal sintonizada tocava Patience, e eu pensei que nada poderia ser mais apropriado para embalar aquela noite insone, especialmente pelos ares de adolescência que essa canção traz. Sei que você saberá a razão de eu citar isso.

Estranho eu escrever assim, como se tivesse a certeza de que, um dia, você lerá essas palavras desordenadas... Mas você mesmo disse, certa noite, que eu escrevo tão bem. Eu deveria te agradecer o elogio, e esse texto talvez seja uma forma de te dizer obrigada.

E há tantas coisas que eu não sei, como sua banda preferida, o lado da cama que você dorme, a cor da sua escova de dentes... E tantas outras que eu descobri, como sua preferência por uísque, seu horror à calabresa, seu mal gosto para o futebol, e algumas das suas manias protocolares (é assim que você chama, não?).

Mas, entre as tantas outras coisas que eu já sei é que jamais poderei permitir me apaixonar por ti... Fique sossegado, menino. Eu também sou uma boa moça. Eu só vou lamentar e fumar um ou dois cigarros, beber um Cosmopolitan e esquecer, afinal você já deu as cartas.

Saiba apenas que isso não impedirá que meu pensamento voe até você na hora mais inesperada.

E a crise de consciência ainda não veio e então eu decidi que, enquanto for bom, enquanto a gente quiser, enquanto a vontade nos mantiver, de uma forma ou outra, ligados, eu te quero perto, ainda que eu precise esperar a primavera chegar.



“And it'll work itself out fine

All we need is just a little patience…

I can't have you right now I'll wait...”

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A ou B

E as pessoas te rotulam de tantas coisas, como se uma característica anulasse as demais. E então o cara é gay, aquela mulher é vagabunda, o outro tem problemas com drogas, a vizinha é fofoqueira, e ponto.
Como se não houvesse espaço para mais nada.
Como se não tivessem o direito de ser outra coisa a não ser aquilo que o rótulo impôs.
As pessoas, ora, não são apenas 'a' ou 'b'.
O rockeiro também acorda cedo para trabalhar, a vagabunda também cuida da avó idosa, o alcoólatra tem um poodle.
Meu caro, eu te digo: somos todos reticências. No máximo, algumas aspas!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O marido rico.

Pois é. Depois de um sonho muito estranho na noite retrasada, em que sonhei que estava casando com um vestido horrível e contra minha vontade, comecei a me perguntar: por que, afinal, eu ainda não casei?
Não, acreditem, não foi por falta de noivo! Não que eu seja a personificação da mulher ideal para casar, pelo contrário, mas alguns ex-namorados (plural) já cometeram o desatino de me pedir em casamento. Rompi com todos eles. Inclusive com um apressadinho que, na primeira semana de namoro, já planejava a lua-de-mel.
Por que lembrei dele? Por que a vida é mesmo estranha. Ou, melhor, a gente é meio estranho. Bem, pelo menos eu sou. Observando um velho amigo e sua esposa (cerca de 20 anos mais jovem), me ocorreu o pensamento de que ela tinha tido sorte, afinal, meu amigo é bem de vida, boa praça, engraçado, e um homem sensível como poucos. Dez segundos após me ocorrer tal pensamento, começaram meus questionamentos interiores: Sorte? Se estou achando que a dita cuja teve sorte, por que eu não casei com aquele ex-namorado apressadinho? Até hoje, passados quase dois anos, ele ainda não me tirou do pedestal que havia me posto. É engraçado, inteligente, sensível, atencioso e... R-I-C-O!!! Sim, o tal marido rico que muitas Natalhie's Lamour's da vida real almejam. E eu não quis. Eu dispensei o marido rico. E fico agora falando que a esposa do meu amigo rico tem sorte. Bem, talvez para ela uma vida de 'madame' baste. Para mim, nunca bastou. Dinheiro é muito importante, mas a verdade é que, nesses assuntos de coração, eu sou ainda a mesma menina ingênua que aos 12 anos sonhava com o príncipe encantado. Tem que me fazer sentir as pernas bambas e o coração saltando pela boca ao primeiro olhar. Se não for assim, prefiro os sonhos - ainda que neles meu vestido de noiva pareça uma árvore de natal rendada.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O Encontro

Naquela manhã acordei agitada. Bem da verdade, nem sequer dormi. O encontro que eu vinha postergando há anos aconteceria naquela noite. Eu estava tensa. O dia demorou a passar. Não consegui trabalhar direito, a cabeça estava em outro lugar. Até que chegou a hora. Relutei até o último minuto, e minha vontade, confesso , era a de sair correndo, fugir. Mas eu sabia que daquele encontro dependeria a minha vida. Pontualmente, às 23h, ela estava lá. Eu também.


Num primeiro momento, quase não a reconheci. Fazia anos que não a via. Tinha me esquecido de como seus olhos brilhavam, de como seu sorriso era contagiante.


Ela me cumprimentou com um abraço caloroso, porém seu semblante revelava certo ar de contrariedade. De reprovação, eu arriscaria dizer.


Sentamos. Ela pediu ao garçom uma pizza – qualquer uma que tivesse bacon e catupiry servia.


Por um minuto – que pareceu durar uma vida inteira – não dissemos nada. Apenas contemplamo-nos. Era estranho estar ali, depois de tanto tempo. Minha vontade ainda era a de sair correndo.


Reparei em como suas mãos eram bonitas. Ela finalmente parara de roer unhas! Mas continuava usando roupas pretas, o cabelo ainda era vermelho, meio desajeitado, e o número de tatuagens espalhadas pelo corpo parecia ter crescido em uma proporção considerável. Usava ainda uma maquiagem carregada nos olhos, e um anel de coruja.


Disse-me que ainda acreditava em bruxas, ouvia Legião Urbana, chorava com Patience, e mantinha um diário secreto. E ainda não aprendera a fazer bolos nem pão de queijo decentes.


Ela elogiou minha roupa. Achou meu cabelo meio careta, e questionou se eu ainda era fixada em sapatos como em tempos passados. Achou que 138 pares, em se tratando de mim, não eram um exagero, e sorriu.


Reparou também nos meus brincos, nos anéis e no delicado colar que eu usava. Disse que nunca me vira tão elegante, tão bonita. E riu quando eu lhe disse que ainda não havia conseguido perder aqueles 7 quilos que me atormentavam desde a adolescência.


Fez-se mais um minuto de silêncio, e então ela, direta como sempre, colocou um ponto final nas amenidades. Estávamos ali para falar de algo muito sério.


Sem cerimônias, com certa brutalidade até, ela desenterrou o passado e esparramou-o sobre a mesa. E passou a me dizer tudo aquilo que eu não queria ouvir.


Chamou-me de covarde. E quem dera esse tivesse sido a maior das maledicências.


O que doeu mesmo, foi quando ela me perguntou por que eu havia me afastado de meus amigos, onde estavam os meus sonhos, meus livros,meus discos de vinil, meus gatos.


Opa! – gritei. “Os gatos estão em casa, dormindo”, disse-lhe.


- E o violão?


Ah, só ela sabia me ferir como ninguém mais seria capaz.


Respondi-lhe que ainda não aprendera a tocar. E ela me perguntou até quando eu adiaria também isso.


Óbvio que ela nem ousou me perguntar como iam as aulas de natação, de pintura, e a eterna promessa de largar o chocolate. Não era necessário, pois ela sabia de antemão a resposta.


Seus olhos me recriminavam. Minha vontade de fugir dali cresceu exponencialmente. Não, eu não conseguiria suportar tudo aquilo de uma só vez.


Abruptamente, ela levantou-se e deu-me um soco no estômago. E a ânsia de vômito e a dor que sobrevieram fizeram-me encolher na cadeira.


Só consegui levantar agora.


Ainda estou zonza com tudo isso. Mas sei que não terminou. Temos outro encontro marcado para sexta-feira. Ainda existem muitas pendências.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

A decisão de não ter filhos

Normalmente as pessoas se chocam quando digo que não quero ter filhos. Ficam horrorizadas, escandalizadas (e, algumas, até revoltadas!) quando eu digo que não gosto de crianças. A verdade é que nunca gostei. Acho até bonitinho, fofinho, mas na estante dos outros. Digo, no colo dos outros.


Por muito tempo aleguei que não queria ter filhos pois sou egoísta demais para abdicar de minha liberdade em prol de um serzinho que dependeria única e exclusivamente de mim. Profanei a quem me perguntasse que não estaria nunca preparada para dividir meu tempo, meu dinheiro e minha atenção com uma criança. Balela. Fosse isso eu não teria nove gatos, dois cachorros e meia dúzia de cães de rua a que alimento.


Então cheguei à conclusão que egoísta é quem tem filhos! Normalmente quem tem filhos os tem para perpetuar seus genes (ainda que isso seja muitas vezes um desejo inconsciente), para ter alguém que lhes dê apoio na velhice, para ter alguém para projetar seus sonhos, alguém para amar e lhes amar, ou se orgulhar das boas notas, da aptidão pelo esporte ou por algum outro talento desenvolvido. E sempre (sempre!) esperam uma troca de afeto. Reciprocidade. Há sempre a idéia de receber algo em troca. Não venham me dizer que há total desprendimento, pois não há!


Em contraponto, o que posso esperar dos meus animaizinhos? Carinho? Não, quem tem gatos sabe o quão são independentes.

Disseram-me, há algum tempo, que eu ainda 'morderia a língua'. Que chegaria o tempo em que ser mãe seria uma necessidade. Talvez isso ocorra, mas eu dúvido muito. Adotar... Talvez. Conceber, gerar... Isso definitivamente não combina nem um pouco comigo. É a minha opção, e eu espero que chegue o dia em que as pessoas entendam e não recriminem quem optou por uma vida livre de amarras, livre da tal 'ordem natural das coisas', livre de compromissos que não estejam de acordo com a minha escolha pessoal de como viver cada um de meus dias.